Consciência Negra

Ter uma data para nos lembrar, trazer à memória, seja uma pessoa ou uma profissão, seja um fato histórico ou um fato social faz parte de um repertório comportamental da condição humana. Precisamos de objetos, construções, narrativas, fotos, filmes, entre outros elementos para reforçar/forçar a nossa lembrança. Daí termos tantas datas comemorativas e reflexivas de toda espécie. Contudo, precisamos avançar para além das datas, principalmente quando se trata de construção social.

A consciência negra expressa e designa a percepção histórica e cultural que os negros têm de si mesmos. Representa também, a luta dos negros contra a discriminação racial e a desigualdade social.

O Dia Nacional da Consciência Negra, criado em 2003, foi escolhido por ser a data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Portanto, uma escolha coberta de significado singular, pois Zumbi personifica o protagonismo negro na resistência contra a escravização no Brasil. Com isso, a abolição da escravatura passou a ser percebida como resultado de luta e conflito, não como dádiva.

O conhecimento histórico da África e cultura dos afro-brasileiros para a construção de uma mentalidade democrática, reconhecendo e respeitando a diversidade cultural e étnica está garantido pelas leis: 10.639/03 e 11.645/08. Estas objetivam uma convivência ética e humana, conquistadas pelo movimento do povo negro desde a década de 1980, período posterior à ditadura militar. 

A partir da Constituição de 1988 do Brasil, carta magna democrática, os afro-brasileiros puderam avançar com sua luta pelos direitos civis (liberdade, propriedade e igualdade perante a lei); direitos sociais (educação, trabalho, salário justo, saúde e aposentadoria); direitos políticos (participação no governo/voto); pois sua cidadania permanecia inconclusa, consequência dos direitos negados durante os mais de 300 anos (séculos XVI a XIX) de escravização no país.

Sabemos que o racismo, preconceitos e discriminações são construções sociais, daí a necessidade da formação e atualização de uma consciência negra. Esta não é uma autoconsciência de que se é negro, enquanto unidade biológica; é a autoconsciência de que se é negro, enquanto unidade sociológica.

A identidade negra deve ser percebida e respeitada como diferença, e a sociedade deve exigir que essa diferença seja percebida sem desigualdade. Dotar essa diferença de força política, de valor social e de pujança cultural. 

No dia 20 de novembro lembremo-nos da importância de engajamento na conscientização cotidiana de que somos um só povo, uma só nação, com rica diversidade étnica cultural. E também, de que na sociedade brasileira apresentam-se: preconceitos, racismo e profunda desigualdade social, em pleno século XXI, e que estes precisam ser vencidos.

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